No ambiente altamente competitivo e regulado da saúde, é comum que executivos e conselhos focados na operação diária acabem deixando de lado uma pergunta estratégica fundamental: Quanto vale a sua empresa? Seja um hospital, clínica ou operadora de planos de saúde, compreender o real valor do negócio não é apenas uma curiosidade, mas uma necessidade diante das mudanças do mercado e das oportunidades de expansão.
O valuation – ou avaliação de valor de mercado – não se resume a um cálculo financeiro. No setor de saúde, diversos fatores tangíveis e intangíveis entram na conta: da reputação da instituição à sua eficiência operacional, passando por compliance regulatório, estrutura instalada e capacidade de geração de receita.
💸 O que é valuation?
Valuation é o processo de determinar quanto vale uma empresa no mercado, considerando diversos aspectos além do faturamento atual. No setor de saúde, isso envolve desde o potencial de crescimento até o risco assistencial e regulatório.
Compreender o valuation de uma instituição de saúde é fundamental para decisões estratégicas como captação de investimentos, fusões, aquisições, planejamento sucessório e expansão.
📝 Principais metodologias de Valuation no setor de saúde
- Fluxo de Caixa Descontado (FCD): Projeta o fluxo de caixa futuro e traz esse valor para o presente, ajustando o cálculo com base nos riscos e no custo de capital;
- Múltiplos de Mercado: Compara indicadores financeiros (como EBITDA, receita líquida e número de leitos) com empresas semelhantes do setor;
- Análise da Base de Clientes: Para operadoras, considera-se o tamanho da carteira de beneficiários, retenção e perfil de risco;
- Due Diligence Completa: Avaliação dos aspectos jurídicos, fiscais e regulatórios, verificando passivos ocultos e a conformidade da operação;
- Estudo de Tendências e Benchmarking: Avalia a posição da empresa frente à concorrência e às perspectivas do mercado de saúde.
🔧 Ajustes necessários no valuation de hospitais e operadoras
Diferente de outros setores, o mercado de saúde possui características específicas que exigem correções nos modelos tradicionais de avaliação:
- Ciclo de receita prolongado e dependente de glosas e auditorias médicas;
- Custos fixos elevados com estrutura assistencial e tecnologia médica;
- Margens reguladas, com limitação na precificação (ANS e SUS);
- Importância dos indicadores de qualidade e segurança assistencial, que impactam diretamente a percepção de valor pelo mercado.
Um hospital com certificação ONA Nível 3 ou acreditação internacional (como a JCI), por exemplo, pode ter um valuation superior ao de concorrentes sem esses selos, justamente por representar menor risco operacional e jurídico.
🏥 Hospitais: como avaliar?
O valuation hospitalar não depende apenas da receita ou da quantidade de leitos, mas de como esses leitos são utilizados e do modelo assistencial adotado.
📊 Principais fatores que influenciam o valor de hospitais:
- Taxa de ocupação média superior a 70%;
- Mix de fontes pagadoras (SUS, convênios e particulares);
- Capacidade instalada cirúrgica e taxa de utilização do centro cirúrgico;
- Eficiência nos indicadores operacionais (tempo médio de permanência, giro de leito, sinistralidade interna).
Exemplo prático: Um hospital com uma UTI subutilizada pode aumentar significativamente seu valuation ao diversificar a linha de cuidados – por exemplo, incorporando transplantes, oncologia ou terapia intensiva especializada – aumentando a rentabilidade por leito.
💲 Dados de Mercado:
Segundo estudos de M&A (Mergers and Acquisitions) no setor, hospitais privados brasileiros têm sido negociados com múltiplos variando entre 8x a 12x o EBITDA, dependendo da eficiência, governança e potencial de expansão da instituição. Hospitais especializados ou de nicho (como oncologia ou ortopedia de alta complexidade) tendem a atingir múltiplos ainda maiores devido à barreira de entrada e menor competição local.
🏦 Operadoras de Saúde: o olhar está no MLR
O fator mais determinante para o valuation das operadoras é o Índice de Sinistralidade (MLR – Medical Loss Ratio). Segundo a ANS, 80% da receita das operadoras deve ser destinada ao custeio assistencial, e o restante cobre despesas administrativas e margem de lucro.
📈 Principais elementos avaliados em operadoras:
- Carteira de beneficiários: volume, perfil etário, capacidade de retenção;
- Gestão de sinistros: programas de medicina preventiva, Atenção Primária à Saúde (APS) e controle de internações desnecessárias;
- Verticalização assistencial: operadoras com hospitais próprios ou redes conveniadas estratégicas têm maior previsibilidade de custo e tendem a obter múltiplos de valuation superiores.
Exemplo real: Operadoras que investem em Atenção Primária conseguem reduzir a sinistralidade em até 20%, segundo dados do IESS (Instituto de Estudos de Saúde Suplementar), aumentando previsibilidade e atraindo investidores.
💲 Dados de mercado
Operadoras de saúde são, geralmente, negociadas com múltiplos entre 6x a 10x EBITDA, variando conforme carteira de beneficiários, índice de sinistralidade e modelo de governança. Planos odontológicos, por exemplo, costumam ter múltiplos menores por serem menos complexos e mais sensíveis ao preço.
📃 Regulamentações que impactam o valor
O ambiente regulatório do setor é um dos fatores críticos que impactam diretamente o valuation. Algumas normas relevantes incluem:
- RN 565/2022 (ANS): Define exigências de solvência e reservas técnicas para operadoras;
- LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados): Impõe rigor sobre a gestão dos dados de saúde, aumentando o valor dos ativos de dados bem estruturados e compliance robusto;
- RDC 50/2002 (Anvisa): Estabelece critérios para a infraestrutura física hospitalar, impactando a necessidade de investimento e atualização das instalações.
🤔 Quanto Vale a Sua Instituição de Saúde?
O valuation na saúde vai além dos números: envolve traduzir qualidade assistencial, governança e gestão de riscos em valor financeiro percebido pelo mercado. Instituições que conseguem fazer essa ponte estão mais preparadas para atrair investidores e garantir um crescimento sustentável em um setor resiliente e de alta demanda.
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