Apesar de o setor de planos de saúde ter registrado um lucro de R$ 7 bilhões no primeiro trimestre de 2025, especialistas e representantes do setor alertam: o cenário está longe de ser positivo para a maioria das operadoras. Por trás do número expressivo, há uma série de desequilíbrios, distorções e fragilidades estruturais que continuam a comprometer a sustentabilidade do sistema.

💸 Lucro concentrado e receita mascarada

De acordo com o painel econômico-financeiro da ANS, foram as grandes operadoras que puxaram o desempenho positivo do setor. Já as operadoras de pequeno e médio porte seguem enfrentando severas dificuldades. Das 640 operadoras ativas, 284 encerraram o período com prejuízo operacional — quase metade do total.

Para a diretora-executiva da FenaSaúde, Vera Valente, os números não contam toda a história. “Apesar da receita expressiva, o lucro representa apenas 3% do faturamento, e boa parte desse resultado veio de aplicações financeiras, não da atividade-fim. A consolidação dos dados pode mascarar realidades distintas entre as operadoras”, afirma.

📈 Reajustes acima da inflação médica

O lucro bilionário de 2025 também se deve a um movimento iniciado em 2023: o reajuste das mensalidades em ritmo superior ao crescimento das despesas assistenciais. A própria ANS reconhece que o resultado foi favorecido por reajustes mais severos nas mensalidades, ao passo que o ritmo de crescimento dos custos médicos se desacelerou temporariamente. No entanto, esse equilíbrio é pontual e frágil, especialmente diante de possíveis mudanças nas políticas de reajuste atualmente em debate na agência reguladora.

🏥 Fechamento de operadoras e retração do setor

Enquanto algumas operadoras registram lucros, outras seguem encerrando suas atividades. Entre 2011 e 2024, o número de operadoras abertas caiu cerca de 36%, segundo levantamento da Abramge. A redução da concorrência e da oferta de planos impacta diretamente empresas contratantes e beneficiários, além de enfraquecer a capacidade de resiliência do setor.

Operadoras Médicas com beneficiários em atividade - 2013 a 2024

- 35,6% (372 operadoras fechadas ou incorporadas)

Fonte: ANS. *Dados até mar/24


⚖️ Judicialização em alta e queixas dobrando

A judicialização é outro fator que pressiona os resultados: o total de despesas com judicialização evoluiu de R$1,2 bilhão no 1° trimestre de 2020 para R$3,9 bilhões no 1° trimestre de 2025. Além disso, o número de queixas contra os planos disparou: desde a criação do Índice Geral de Reclamações (IGR), em 2018, as reclamações mais do que dobraram, segundo dados da ANS.

Despesas Judiciais pagas pelas operadoras de planos de saúde 2016 a 2023 (valores em bilhões de R$)

Fonte: Elaborado pela Abramge com base em dados da ANS.


💰 Custos crescentes e desperdício estrutural

Mesmo com a desaceleração pontual das despesas em 2024, o custo assistencial segue em trajetória de alta. A cada ano, mais procedimentos entram no rol de coberturas obrigatórias, muitas vezes sem critérios de efetividade clínica. O desperdício também é um problema grave: o Brasil é líder na realização de ressonâncias magnéticas na saúde suplementar, muitas delas desnecessárias do ponto de vista clínico.

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📊 Lucros pontuais, fragilidades persistentes

O lucro bilionário esconde fragilidades profundas e não garante estabilidade futura. A sustentabilidade da saúde suplementar depende de mudanças estruturais — e do uso inteligente de dados, controle de sinistralidade e combate ao desperdício.


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